sábado, julho 22, 2006

Aldeia Pequi

Na aldeia Pequi vivem 17 familias. Todas as famílias residem na aldeia.

As "retomadas" tiveram inicio em 2003, sendo que a primeira foi em uma área de antiga ocupação indigena, o Pequi, próxima a localidade do "Come quem leva", ou seja, fora dos limites do Parque Nacional do Descobrimento, mas no que podemos chamar de grande área de perambulação Pataxo, entre o Parque Nacional de Monte Pascoal e o PND. Segundo informações dos índios, eles foram expulsos, após a ocupação, por empregados do proprietário Vitor Dequech, então proprietário da area reivindicada.

Segundo informações do cacique Zé Chico (Timborana), a área na boca da barra do rio Caí, hoje na mão de dois fazendeiros Vitor Dequech e Ivan Portela, era de posse de seus avós Abelina Pereira da Conceicão e Amâncio Machado, nascidos em Barra Velha e Prado respectivamente.

Subindo o rio Caí a oeste da fazenda do Sr. Vitor, ha uma fazenda denominada Santa Rita, atualmente de posse do Sr. Normando. Esse local concentra várias histórias de um grupo de Pataxó que ali viveram, durante décadas. Trata-se de uma família grande da Sra. Antônia do Amor Divino, mãe de D. Julice, irmã do indio "Fulor", residente no Bugigão/Barra Velha.

D. Julice conta que até 2002, ainda, morava no mesmo local, mas só que cercado por fazendas. Não tinha mais o espaço que antes para suas roças, muito menos a liberdade de pescar na beira do rio. Nesse mesmo ano, hospedou em sua casa um grupo de Pataxó, saídos de Mata Medonha (Sr. Baiara), e que procuravam um local para abrir suas roças. Segundo ela, os fazendeiros interpretaram essa ação, como uma "retomada" e iniciaram um clima de ameaças. Até que um dia, invadiram a casa e espancaram e torturaram seu marido, Sr. Francisco, que por conseqüência sofre de problemas sérios de saúde, inclusive ficando impossibilitado de trabalhar. Foi expulsa de sua casa, obrigada a assinar documentos de venda das terras, e a titulo de "pagamento", repassaram R$ 1.000,00. Após vários pedidos desesperados, D. Julice conta que o fazendeiro deu-lhe um "barraco" em uma vila chamada Guarani, próximo a Itamaraju, mas sem "um palmo de terra para plantar".

Com esse fato, podemos perceber que a violenta forma de agir desses proprietários, não foi utilizada, apenas, nas décadas de 60 e 70, é perpetuada ate o presente momento.

Aldeia Pequi, antiga Serra Verde, também foi formada a partir da retornada de uma área dentro do Parque Nacional do Descobrimento, realizada há um ano e 6 meses aproximadamente. Todas as casas são de taipa, algumas cobertas de madeira (paraju, louro, arapati), outras de sapê, e ainda de telha em folha.

A farinheira é de adobe, coberta de madeira e com a prensa de Ipê (montada pela comunidade e com apoio da FUNAI), onde fabricam farinha de puba e de guerra. Fazem também tapioca e bolo de tapioca. Parte da farinha que não é consumida é vendida nos mercadinhos da vila de Cumuruxatiba, bem como o excedente de frutas.

As roças são pequenas, de no máximo 1 tarefa, todas ao redor das casas. Plantam abacaxi, mamão, mandioca, banana, cana de açúcar e coco. Estão se preparando para trabalhar com apicultura. Criam galinha para consumo.

Utilizam a água do rio do Peixe e pescam nos rios Imbassuaba e Caí. Também pescam em urna represa conhecida por Só não Vou, a 2 horas de caminhada da aldeia. — tipo de peixes — Beré, Traíra, Jundiá, Robalo.

A caça que ainda existe no parque — Anta, tatu, sapateira (anta grande), queixada, porco do mato, meia queixada, caititu, cotia, quati, macaco, saruê, mutum, macuco, veado, pássaros da região, mas são impedidos de caçar por estarem em terras de um Parque Nacional.

A Aldeia Pequi em sua maioria é formada pela família do cacique Baiara, nascido em Barra Velha que viveu na TI Mata Medonha por 17 anos. Saiu de Mata Medonha por divergências internas, e levou consigo vários familiares. Buscou apoio nas terras de D. Julice e tentou se instalar em uma terra próxima ao rio Caí, um local conhecido por antigo Pequi, que hoje é de propriedade do Sr. Normando. Enfrentaram a revolta dos fazendeiros e resolveram passar a ocupar uma área nos limites do Parque.

Recentemente enfrentaram outro problema sério, o fogo. Uma grande área próxima à aldeia queimou durante três dias. Uniram-se aos agentes do Previ-Fogo (IBAMA), para o combate ao incêndio cuja causa está sendo apuradas.


Texto extraído do Estudos de "Fundamentação Antropológica necessários a identificação e delimitação da Terra Indígena de Comexatiba (Cahy/Pequi) da Antropóloga - Leila Silvia Burger Sotto-Maior